O Olho de Tebas
E a poética dos enigmas
Guaracy Rodrigues
(poeta e Escritor)
A literatura de José Leite Netto possui a ânsia pela palavra exata de cada essência e a obsessão pelo verso curto, limpo, digital. A textura poética nos promete grandes vôos e um futuro fecundo. O curso de suas referências busca fontes imorredouras da poesia universal. Navegando de forma construtiva a urbanidade semiológica de signos vitais de sua geração.
O poeta aprendeu nas lições do corpo, a vertigem do erotismo, a luta contra o irredutível, o enigma da morte e da consciência: “A vida é uma nau a naufragar/ perdida num mar sem bússola” (Nau Frágil). Compondo painéis diversos, o conteúdo de seus poemas atravessa o psicologismo esotérico tão em voga e se dissipa na perplexidade do pós-modernismo deixando-nos uma substantiva poética de seus enigmas. O infinito de Tebas é longínquo e o eterno parece ascender os mistérios indecifráveis dos rituais iniciáticos.
O esoterismo de Fernando Pessoa transfigura o poeta e o irrita como a um sátiro. Entretanto, sua ressonância é bem profunda e benéfica. Há também rabiscos inconscientes do misticismo de um WILLIAN BLAKE e muito menos de um despojamento de WALT WHITMAN. Este sulco poético é apenas o liame de reportagem dentro da sutil imagética do poeta, pois sua seara é do horizonte do aprendizado pela inquietude.
O tempo perpassa seus poemas como um péndulo lépido e dual, corrosivo. Seus transcendentes girassóis nos remetem a seus reencontros reencarnacionitas. Tebas é eterna em seus despojos sob a égide do deus sol egípcio AMON-RA. O poeta quase delira: “O meu ser cada vez mais disperso reencarnava confundindo-se/ com o templo de Carnaque/ Transformei-me num pássaro...” (O Olho de Tebas). Caminhando numa vigília permanente entre a realidade e o sonho, o mundo carece de sentido: “perco-me, concreto / ou abstrato/ perco-me/ Os ponteiros, o meu corpo, a minha mente/ Não me dizem nada.”(O Sonho e a Vigília). Circunspecto o poeta afirma: “ A princípio/ entre dois mundos/ Resido” (Enigma). O refúgio intocável dos monges é dentro de si mesmo, e é só através da paz interior que existe a possibilidade de libertar-se. Mais uma vez escutamos o eco de Fernando Pessoa: “ Não sou nada!/ Suporto a mim mesmo,/ Das Pedras herdei o silêncio/ calo-me no que penso:/ Pesa-me o infinito.”(Herança das Pedras). José Leite Netto ainda guarda resquícios da sua admiração pelos poetas simbolistas modernos, sem perder o estro: “Entrai-vos no peito meu/ iconoclasta/ Celebrai-vos conquistas/ perdidas.”(Iconoclasta). Essa divercidade estética, o autor, revela um universo experimental em sua poética, rico em metáforas, onde busca realizar com afinco sua escritura. Acreditamos, pois, no desafio estimulante a que se propôs. Porque um poeta nasce de circunstâncias diversas, tudo é íngreme para a arte verdadeira, os livros são metáforas inacabadas da história de cada um. Principalmente a trajetória de um jovem poeta, seus caminhos são feitos de tentativas marginais e heróicas à margem do mundo da mídia. O poeta e escritor José Leite Netto, não diverge disso, o seu livro “O Olho de Tebas” sai agora da longa gestação dos inéditos, sem nunca perder seu elo vital e sua força poética, digna do talento que nele se anuncia.